terça-feira, 9 de março de 2010

QUARTAS - SILVIA (parte 2)

Sílvia entra para sua habitual consulta às quartas. Mal a psicóloga abre a porta da sala Sílvia entra sorrindo e ofegante diz: -“boa tarde doutora, tenho novidades!”.

A médica então cumprimenta a cliente: -“boa tarde, como vai?”.

Recomeça a paciente: - “doutora Cristina eu tenho novidades. Bem, hoje fui a um evento no trabalho daquele rapaz com quem saí, lembra? Pois bem, na saída do auditório para sala de recepção ele estava na porta, mas passei rapidamente como se não o visse, pois ele não me ligou mais, assim, achei melhor não cumprimentá-lo. Depois, durante a recepção vi que ele vinha na minha direção, então entrei rapidamente no banheiro e me escondi. O que a senhora acha doutora? Acha que ele vinha na minha direção para falar comigo? O que a senhora acha que ele iria me dizer? O que a senhora acha que eu deveria ter respondido?

A médica olha pensativa para a paciente, respira fundo e diz: -“bem, não é possível responder a tantas hipóteses, só temos uma certeza, a de que ele saiu com vc, tinha seu número de telefone, e nunca mais ligou.”

A paciente então diz: -“sim doutora, disso eu sei, mas o que gostaria de saber da senhora, que consegue ler os pensamentos das pessoas, é se ele me viu, se ele vinha mesmo na minha direção, se ele vinha falar comigo e o que eu deveria ter respondido."

"Pulsos Sujos" (Maria Fernanda)

A angústia me consume desde o início da tarde, não sei o que fazer, qual o canto da casa ficar ou se sair, pra onde ir.

Saio, uma vontade de chorar, choro.

Vergonha da minha vergonha, vergonha da minha fraqueza inconfessável. Medo. Medo do que? Medo do acaso.

Mas sempre dominei esse acaso. Esse acaso tem sido cassado, arrancado, extirpado em todos os momentos. Tive lutas incessantes. Muralhas sangraram pelos meus pulsos, corajosamente segui em frente mesmo suada, cansada e suja de do líquido que move a vida, mesmo assim fui em frente.

Mas porque eu só agora vejo que preciso de um abraço? É que quero recarregar minhas forças, mas não sei como, nem sei mesmo como as perdi. Mas o demônio sabe! Ele percebe que os instantes de paz não tem sido suficientes para que eu me recomponha, e me procura pelos cantos e frestas. Eu me finjo de morta, mas ele sempre me acha e me apunhala sem piedade.

Assim, quase a beira da minha morte eu contenho meu último choro, poupo minhas poucas forças, e de repente para minha surpresa eu percebo o rosto de pavor do meu algoz, consigo ver - sem crer - o medo que ele tem mim. Ele também está assustado! Cansado e também sem forças, daí - simplesmente - me deixa e desiste!

Perplexos, ficamos eu e ele, sem saber quanto tempo ainda lutaríamos a até morte de um de nós.